13.3.05

Tiquina

Tia, como tantas outras mães de Malhadas, de Miranda, de Trás-os-Montes. Maria Joaquina, Quina... Ti'Quina, Tiquina de Malhadas. Minha avó é essa mulher, que nasceu num dia 18 de 1918, inverno aquecido pela festa que celebrou seu nascimento. Por falta de testemunha ocular, acreditamos como se estívessemos estado lá quando ela nos conta, com toda a sua alegria, que no dia em que nasceu a festa estava tão boa que ela teve que participar, levada pelo pai!
Talvez por isso ela sempre tenha sido essa pessoa que tantos amam, uma mulher tão feliz e tão jovial, que adora contar as tantas peripécias que aprontava já desde pequena.
Preparo-me pra gravar todas as suas histórias e vou me lembrando de muitas coisas sobre ela... Lembro-me de quando eu ainda a estava conhecendo, criança.
Ela era “só” a vó Maria, aquela que morava loooonge, e que me fazia rir e me respondia que aquilo tudo o que eu estava ouvindo tinha acontecido quando eu ainda estava em Paris. E por quanto tempo eu acreditei nisso! Até o dia em que entendi finalmente a expressão completa... na verdade, eu ainda estava era “no cu dos franceses” aguardando a minha vez de nascer... mas que lugarzinho, não?
Fiquei feliz de ter saído de lá para os braços da minha avó nos domingos paulistanos regados a bacalhoada, sardinha na brasa, e o franguinho “das crianças”, o macarrão e o indefectível “pudinho”, quando não a minha sobremesa favorita: o arroz de festa!
Domingo, então, não era apenas um dia, era um ritual! E começava logo cedo, afinal de contas a gente morava longe, e a uma hora em que percorremos hoje os mesmos 100km naquele tempo durava muito mais. Pelo menos, na minha cabeça...
A ansiedade era tanta pra começar a ver as pipas coloridas no céu e o pico do Jaraguá que se desenhava ao longe naqueles tempos de céus ainda pouco maculados pela poluição, que eu ia gravando cada árvore no caminho e conversava com a faixa branca da estrada pra me garantir de que estávamos mesmo no caminho certo.
Passeávamos pela Lapa, Minhocão, Liberdade e chegávamos na querida Aclimação. Mas o último pedaço de rua antes de entrar na vila quase que nunca eu via, escondida que ficava naquele buraco áspero que alguns tinham a coragem de chamar de bagageiro. Isso tudo pra chegar na casa da avó e ouvi-la dizer “as crianças não vieram?” e dizer:
SURPRESA!!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Linda!!

Anônimo disse...

Seal, esqueci de assinar :o))
Simone