27.4.05

Consciência

Quando olhei ao meu redor só enxerguei o escuro denso do medo, feito de uma teia de ignorância, que aos poucos com lampejos de verdade fui reconhecendo, tateando e mapeando.
Ali está a escuridão, ali está o medo... eu aposto, conheço e reconheço.
E ainda tenho medo, mas o medo não me tem mais...

"when i allow it to be
there's no control over me
i have my fears
but they do not have me "

(Darkness - Peter Gabriel)

21.4.05

De olhos fechados...

Aperto com força, a água surge por todos os cantos da boca, e devagarinho a bala amacia, cede e explode num gosto agudo de canela.
Sento-me no degrau mais alto da escada e deixo que o vento me atravesse a alma, acaricie meu rosto de passagem e deixe um leve arrepio de lembrança. Deixo que entre pela boca, junto com o aroma da manjerona fresca que balança no jardim, e saboreio dente por dente, num passeio interno.
A garoa começa a cair carinhosamente e acorda a terra pra brincar. E brincam de perfumar o ar, e o ar carrega consigo todos os perfumes que eu havia perdido no tempo do meu crescer.
Eu tiro os sapatos e sinto o chão, ansiando pela terra. E volto pra casa.

14.4.05

Diacionário

Sonolenta,
Lasciva e
Preguiçosa.
Faminta,
Saciada e
Espaçosa.
Tolerante,
Apressada e
Cheirosa.
Impaciente,
Exigente e
Criteriosa.
Impulsiva,
Compulsiva e
Escandalosa.
Inconformada,
Conformada e
Manhosa.
Maternal,
Liberal e
Voluntariosa.
Roxa,
Bege e
Cor-de-rosa!

13.4.05

Simples Assim

Liberdade é saber que existem escolhas e lidar com elas. Me fascina pensar que a cada segundo temos o tudo e o nada na mão sob a forma das nossas escolhas e ainda assim a gente vive escolhendo o caminho mais azedo, quando existem outros tão doces...
A vida pode ser um saco, é só a gente querer.

12.4.05

Dois Mil e Um

Astronauta libertado
Minha vida me ultrapassa
Em qualquer rota que eu faça
Dei um grito no escuro
Sou parceiro do futuro
Na reluzente galáxia

Eu quase posso falar
A minha vida é que grita
Emprenha se reproduz
Na velocidade da luz
A cor do sol me compõe
O mar azul me dissolve
A equação me propõe
Computador me resolve

Amei a velocidade
Casei com 7 planetas
Por filho, cor e espaço
Não me tenho nem me faço
A rota do ano-luz
Calculo dentro do passo
Minha dor é cicatriz
Minha morte não me quis

Nos braços de 2.000 anos
Eu nasci sem ter idade
Sou casado sou solteiro
Sou baiano e estrangeiro
Meu sangue é de gasolina
Correndo não tenho mágoa
Meu peito é de sal de fruta
Fervendo num copo d'água


(Rita Lee e Tom Zé)

* Ah, eu sou mutante! Ah, eu sou mutante!

9.4.05

Paralelas

Atrás dele se sentam duas mulheres de meia idade, que ao passar arrastando sacolas cheias quase levam seu violino junto. Ele segura a preciosa caixa junto ao peito e se espreme um pouco mais no assento solitário. Aos poucos os lugares vão sendo ocupados e então ele vê a pequena figura pela primeira vez na vida.
Ele a analisa sem pressa, uma vez que ela se senta um pouco mais à frente, a viagem será longa, a tarde de maio está ensolaradamente fria e ele encontra alguma semelhança entre eles, já que parecem ser as únicas crianças dentro do ônibus parado no ponto final. Seu olhar encontra os pés dela embaixo do outro assento solitário e ele sorri ao ver a meia calça cor-de-rosa enfiada em sandálias de plástico roxo. A cabeça pende sonolenta para o lado e o cabelo fino e loiro se esparrama graciosamente pelo encosto do banco vermelho.
O ônibus começa a andar e ela parece acordar assustada, então se vira para ter uma visão panorâmica de todo o interior do veículo e seu olhar encontra o dele por um segundo, e por um segundo alguma coisa parece familiar, quase como se estivessem se olhando no espelho.
A viagem continua e o ritmo o embala num sono quase palpável, pegajoso. Ele esfrega as faces coradas e quase derruba o instrumento do colo, atrapalhado. Olha para frente e encontra o assento vazio.

Os dias haviam se passado e agora ele, já acostumado com a presença dela, aproveita as viagens explorando os outros personagens. Não, nunca lhe ocorreu perguntar pra onde ia e seu nome. Primeiro porque ele já sabe que ela vai fazer ballet, segundo porque... o nome, o que ele faria com essa informação? Ela é uma certeza.

Algumas vezes eles se encontram frente a frente, mas jamais se falaram e ele cada vez mais acha interessante nem se falarem. É porque de alguma maneira eles parecem se comunicar com alguns poucos olhares e detalhes. Como na vez em que o ônibus quebrou no meio do caminho e ela atravessou na frente dele, apressada em pegar o outro pra não perder hora. Ou quando ela cochilou e perdeu o ponto e acabou descendo no mesmo ponto que ele, e o seguiu, tímida e disfarçadamente, como se ele não soubesse que ela estava entre perdida e curiosa.

Ele já não pega mais aquele ônibus, mas ainda outro dia encontrou com ela na banca de jornal, na padaria, na rodoviária, no metrô... em outra cidade, com outras pessoas, com o marido dela, com a sua esposa. Várias cenas. Vidas. Paralelas. Linhas retas que nunca se cruzam. Ou se cruzam no infinito?

8.4.05

Força da Natureza

Ar com ar o que é que dá?

O AR (O VENTO)
Toquinho, Bacalov e Vinícius de Moraes

Estou vivo mas não tenho corpo.
Por isso é que não tenho forma.
Peso eu também não tenho.
Não tenho cor.

Quando sou fraco
Me chamo brisa.
E se assobio,
Isso é comum.
Quando sou forte,
Me chamo vento.
Quando sou cheiro,
Me chamo pum!

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Muito prazer! ;)

5.4.05

Re-Encontro

A plataforma 7 foi fiel em me esperar, mesmo depois de 12 anos, e achei que a casca do Cometa continuava a mesma, apesar do interior ter recebido algumas pequenas modificações. A napa lisa e calorenta foi trocada por uma rugosa, mais macia, e da mesma cor. Procurei à minha volta mas não tive sucesso em encontrar o cinto de segurança, que era obrigatório, segundo um aviso colado embaixo da janela. Talvez estivesse em algum compartimento secreto acima da minha cabeça, mas tão secreto que eu não fui capaz de encontrar.
O roteiro? O mesmo. Mesma estrada, mesmo destino: São Paulo. Não senti o tempo passar. A cabeça a mil e a leitura, que estava boa demais!
Desci e fui recebida pela música. Não qualquer uma, é claro. Tinha que ser uma que combinasse com a alegria que me invadiu. Saltitei com os sapatos novos, como se eles fossem velhos e como se eu ainda tivesse mil viagens a menos. No meio do corredor, em direção ao metrô, vi dois fantasmas adolescentes se encontrando e cada passo adiante era um passo em direção ao passado.
Dentro do trem eu sorria, infantil. Escolhi um canto estratégico no fundo e acompanhei com olhos arregalados a viagem. Lembrei-me do desejo de tocar a parede na velocidade do vagão, inconformada por ninguém ter tido a mesma e brilhante idéia que eu, de decorar as paredes com desenhos formando um grande desenho animado.
Fui até o fim da linha, literalmente. E de lá até o começo do Encontro. Não podia ter havido nome melhor para aquele momento e para o depois. Encontrei o futuro do meu filho e a futura filha de uma nova velha amiga, ainda esperando sua hora de estrear no mundo.
E depois de tudo isso ainda ganhei de presente uma noite estrelada...
Felicidade.

4.4.05

1.4.05

Dia, bom...

Hum, hoje acordei sacudindo os sonhos dos meus cabelos e a primeira coisa que vi, no olho da minha mente (e não sei porque não se diz assim aqui, acho tão bonito) foi essa poesia deliciosa!


Awake.
Shake dreams from your hair
My pretty child, my sweet one.
Choose the day and choose the sign of your day
The day’s divinity
First thing you see.

A vast radiant beach in a cool jeweled moon
Couples naked race down by it’s quiet side
And we laugh like soft, mad children
Smug in the wooly cotton brains of infancy
The music and voices are all around us.

Choose they croon the ancient ones
The time has come again
Choose now, they croon
Beneath the moon
Beside an ancient lake

Enter again the sweet forest
Enter the hot dream
Come with us
Everything is broken up and dances.
(Ghost Song - J. Morrison)

Não é porque hoje é primeiro de abril...

... mas adoro assistir comerciais.
Principalmente quando eles não estão no meio dos programas!