7.10.04

Rapunzel

Ela era uma menina muito curiosa e não tinha medo de se arriscar em nome da satisfação de uma boa aventura, mas como bom macaco que mete a mão na cumbuca, ou vice-versa, um dia a menina resolveu experimentar aquele fruto proibido e por causa disso se exilou numa torre de concreto no cocuruto da cidade grande.
Do alto da sua torre ela podia ver o mundo, mas o mundo não podia vê-la. Era o que ela queria... Afastada dos amigos e longe da família, ela deixava os cabelos crescerem junto com a barriga e uma certa vergonha.
Ela tinha apenas uma boa janela com vista para a cidade, mas não precisava nem fazer tranças e muito menos atirá-las pra fora, porque o príncipe já estava do lado de dentro. Mas não podia ajudar muito porque naquela altura ele ainda estava cego.
O tempo passou e não foi pouco... Quase quatro anos pelo comprimento do cabelo.
Um dia o príncipe, que não estava batendo muito bem das bolas, resolveu sair numa andança pelo mundo e a menina que de moça já estava se tornando mulher valeu-se de sua ausência para voltar ao vilarejo dos pais. Foi então que ela começou a perceber que as longas melenas não lhe traziam nenhuma vantagem, pelo contrário, escondiam seu rosto e atrapalhavam um bocado a sua visão, e seu peso ainda atrapalhava o caminhar. Mesmo assim ela não queria tocar no cabelo.
O que ela não esperava era envergar sob o peso da cabeleira, mas foi o que de fato aconteceu. Envergada e quebrada foi como o príncipe a reencontrou no seu retorno. Comovido, ele chorou lágrimas sinceras que lavaram seus olhos e livraram-no da cegueira, e quando ele voltou a enxergar a primeira coisa que viu foi a cabeleira de sua amada. Tomado por uma fúria principesca ele tosou os fios, liberando-a daquele peso terrível e enfim podendo enxergar seus olhos.
E assim eles puderam continuar a história e foram felizes em todas as festas, formulários e reuniões de família. Tantas quantas suportaram...

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