1.3.06

Passado a limpo

Minha memória olfativa tem se sobressaído ultimamente e meu nariz anda me levando direto ao coração. Foi sentir numa manhã o cheirinho de roupa recém lavada no quartinho de passar pra ele se inflar com uma memória muito antiga, que de tão longe da cabeça me obrigou a uma viagem auto-investigativa de volta.

Quis encontrar a mãe dessa lembrança, a pessoa a quem eu tinha relacionado aquele aroma. O pensamento me levou de volta a todas as áreas de serviço da família, todos os bastidores das casas e das suas pessoas. Algo tão íntimo...

O “quartão” da mãe da mãe e a máquina de costura centenária, praticamente um museu de família. A salinha bem iluminada da casa da irmã da mãe, que cheirava a tinta a óleo e sempre tinha uma tela secando. Minha primeira área de serviço, a apenas um passo da cozinha. O quarto da casa onde cresci e todo o passado engavetado, ensacolado e mofado.

Detive-me na memória do sobradinho de vila da mãe do pai, sua sacada sempre prestes a desabar, o mármore da mesa de centro, os enfeites que esquadrinhávamos, a despensa apertada debaixo da escada e... sim, um quartinho que tinha aquele cheiro!

Uma máquina de costura equilibrando outra mesa, mantas e toalhas, lençol listrado, franqueza e colo de vó.

E a roupa limpa da família.

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