Alguns momentos da nossa vida ficam encantados, congelados no tempo como que por mágica. Quando se lembra deles, parece que aconteceram independente da época, do ano. Tive a sorte de viver alguns assim, deslocados da linha do tempo.
Um deles aconteceu dentro de um café. Chovia e era um domingo de um começo de primavera gelado, sem muitos atrativos. A rua vazia, em uma hora pré-almoço e de comércio fechado, parecia pedir que nos refugiássemos no único café aberto.
Como em um sonho ou uma recordação como esta, só estávamos eu e meu marido no lugar. Então chegou uma outra pessoa. Essa cliente trazia consigo um pequeno cão. E de todos os lugares disponíveis, veio sentar-se justamente em uma mesa ao lado da nossa.
Seu cão foi amigável e carinhoso e por causa dele começamos uma conversa. Foi assim que descobrimos uma pessoa incrível, cheia de histórias a contar e nos acrescentar. O mundo entrando pelos ouvidos. Depois de nos encantar com a história de como ela resgatou o bichinho, em outro canto, de uma situação de maus tratos e de como ele se tornou seu companheiro, saíram gentilmente despedindo-se.
Pagamos nossa conta e saímos logo depois, mas a mulher com o cãozinho havia desaparecido na rua vazia. Bem, não totalmente, uma vez que não sumiu da minha lembrança.